O tempo perguntou ao tempo quanto tempo o tempo tem.
O tempo respondeu ao tempo que o tempo tem tanto tempo quanto tempo o tempo tem.
1) Para início de conversa
O tempo é esta dimensão fugaz e efémera que parece que escapa ao nosso domínio e se esvai como areia entre os dedos.
Cronos, o deus do tempo, é filho do Céu e da Terra. É uma figura tão suprema que é pai de Zeus, o chefe dos Deuses do Olimpo. Os romanos chamaram Saturno a Cronos.
O tempo é considerado imutável e ficamos todos estupefactos quando Einstein veio dizer que o tempo é... relativo. Se eu viajar à velocidade da luz, o tempo para mim decorre mais lentamente do que para quem está parado.
Einstein, no seu gabinete de patentes, não devia ter a vida muito ocupada para chegar a esta conclusão. Na verdade, para quem anda a correr de um lado para o outro é que parece que o tempo passa mais depressa. Mas a verdade é que nas minhas tarefas diárias também nunca viajei, nem perto da velocidade da luz...
O segredo para dominar o tempo é torná-lo palpável, ou pelo menos visível.
Para a gestão de tempo por um docente, é preciso ter em conta os vários ciclos.
Convém recordar que os nossos calendários estão dependentes de dois importantes astros: o Sol e a Lua.
Os ciclos solares dão origem ao ano e ao dia, mas a Lua dá origem ao mês numa aproximação aos 28 dias. Dividindo este número pelas 4 fases da Lua (28 : 7) surge a semana, um ciclo básico para o trabalho nas escolas.
Na verdade, os horários escolares assentam na semana.
A escola tem dois principais atores a intervir: alunos e docente.
2) A gestão temporal do docente
Tempo 01P - O ano letivo
Assim, a gestão de tempo por um docente deve começar pela visão global do ano letivo dividido em meses.
É preciso ter uma visão global do ano letivo. Numa folha A4 é necessário colocar todo o ano letivo de Setembro do presente ano até Agosto do ano seguinte.
Aí assinalaremos as interrupções, os momentos de avaliação intercalar e de final de semestre.
Numa única folha, uma visão geral.
Tempo 02P - O mês
Depois há os calendários mensais, mês após mês, para cada docente individualmente, mas também para partilhar na sala de professores.
É uma unidade intermédia que dá conta da altura do ano em que estamos. Na verdade, falar em Dezembro ou em Maio tem um impacto psicológico completamente diferente.
Em Portugal a escola estava profundamente agarrada ao calendário religioso. Com o ano letivo dividido em 3 períodos, o último período seria, ora muito longo, ora extremamente curto.
A separação em semestres veio dar outra dinâmica os ritmos escolares.
Tempo 03P - 30 semanas numa golfada
Aqui temos um calendário anual dividido em semanas, mas numa única folha A4, assinaladas as interrupções letivas e os feriados.
Rodam à volta de 32 semanas completas um ano letivo em Portugal.
As atividades escolares, sejam as unidades didáticas, os vários projetos e as mais diversas atividades necessitam de ser planeadas à semana.
É um momento doloroso, prever como dividir o ano letivo em unidades didáticas ou assinalar os vários projetos tendo em conta o momento em que ocorrerão e a sua duração. É aqui que ganhamos consciência que o tempo vai ser curto. Será que já viajamos à velocidade da luz sem nos apercebermos?
Com lápis e régua é uma tarefas angustiante, garanto-vos.
Tendo o professor poucas turmas, cada turma terá uma folha destas.
Tempo 04P - A ditadura da semana
Depois vem o planeamento mais fino, mas ainda de forma anual em 5 folhas A4, devidamente coladas, com todo o ano letivo de Setembro a Junho, com cada linha a corresponder a uma semana.
Aqui podemos marcar reuniões de subdepartamento, aniversários do colegas e dos alunos e teste escritos ou outras atividades.
Este plano deve acompanhar o docente a todo o momento.
É o calendário perfeito: dobrado vê-se o pormenor; estendido vê-se o ano todo.
Não há dispositivo digital que substitua este plano. Vai uma aposta?
Tempo 05P - Planear a vida pessoal
É um planeamento semanal para cada docente.
Assinalam-se as aulas e os tempos não letivos.
É um plano estritamente pessoal.
Aqui a vida pessoal cruza-se com a vida profissional.
Os mais modernaços já podem recorrer ao digital: qualquer monitor de 2 palmos permite esta visão global da vida íntima de qualquer docente.
Com o telemóvel não é fácil, mas podem tentar.
Tempo 06P - Conteúdos por semana
Um dos grandes desafios do docente e dos alunos passa por saber em que se concentrar em cada semana, já que o ciclo escolar se concretiza semana após semana.
Como distribuir os vários assuntos semana após semana, ao longo de todo o anos letivo?
Torna-se assim, importante dispor de uma grelha que abarca todo o ano letivo, dividida em semanas e em que em cada semana decidimos o assunto que vamos abordar.
Aqui há lugar para definir o que farão os alunos: que tipo de exercícios, de que páginas, que atividades. É também o ponto de partida para os Planos Semanais que poderão ser entregues aos alunos.
Tempo 07P - Planificação semanal
Cada folha A4 tem as aulas a serem lecionadas ao longo de uma semana, referentes a cada turma.
Em papel vai melhor.
Com um tablet gigante, ou com um monitor de boas dimensões não vai mal.
De forma sintética aqui se assinala o que se irá fazer e o que efetivamente se fez, assinalando os alunos que faltaram e o número de cada aula.
Tempo 08P - Objetivos e competências
Entramos agora nesta unidade básica da escola, em risco de cair em desuso, que é a aula.
Se quisermos é a sessão de trabalho.
Uma aula ou uma sessão tem uma limitação que se prende com os limites do cansaço biológico humano: 1 hora? 90 minutos? Vá lá: 2 horas no máximo sem pausa?
Mas nesta fase define-se que capacidades queremos desenvolver: o raciocínio?
A cooperação? A capacidade linguística?
Em Portugal foram definidas 10 competências-chave e cada disciplina define 5 ou 6 objetivos.
É aqui que se associa o que vamos fazer na aula a cada competência ou a cada objetivo.
Aqui se define como vamos potenciar a mente de cada aluno. Tenebrosamente, trata-se de "
por a mão(1) na massa... cinzenta dos alunos.
(1) "Por a mão na massa" é uma expressão idiomática em português que significa "começar a trabalhar" ou "fazer algo com as próprias mãos". Ela é usada para indicar que alguém está se envolvendo diretamente em uma tarefa, em vez de apenas planejar ou falar sobre ela. É como arregaçar as mangas e começar a executar, seja uma atividade prática ou intelectual.
Tempo 09P - Plano de Aula
O trabalho do docente assenta em bloco de tempos em que decorre a interação com os alunos ou "aprendentes".
Este tempo deve ser gerido ao minuto.
Aqui o docente, o encenador ou o realizador de cinema têm tudo em comum.
Gerir a expetativa, as emoções, o ritmo, a alegria, combater o fastio e o tédio.
As neurociências e a psicologia dizem que há períodos de atenção e concentração máxima e períodos em que esta atenção é diminuída.
Aqui a gestão pode ser feita ao minuto, sempre a olhar para o relógio.
Um anfitrião de qualquer festa formal e solene necessita do mesmo cuidado. Veja-se como gerir uma festa de um casamento ou de um batizado.
3) A gestão temporal do aluno
(ver proximamente)
Bom trabalho
© Eduardo Rui Alves
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